segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O contrário do Amor...


"O contrário de bonito é feio, de rico é pobre, de preto é branco, isso se aprende antes de entrar na escola. Se você fizer uma enquete entre as crianças, ouvirá também que o contrário do amor é o ódio. Elas estão erradas. Faça uma enquete entre adultos e descubra a resposta certa: o contrário do amor não é o ódio, é a indiferença.
O que seria preferível, que a pessoa que você ama passasse a lhe odiar, ou que lhe fosse totalmente indiferente? Que perdesse o sono imaginando maneiras de fazer você se dar mal ou que dormisse feito um anjo a noite inteira, esquecido por completo da sua existência? O ódio é também uma maneira de se estar com alguém. Já a indiferença não aceita declarações ou reclamações: seu nome não consta mais do cadastro.
Para odiar alguém, precisamos reconhecer que esse alguém existe e que nos provoca sensações, por piores que sejam. Para odiar alguém, precisamos de um coração, ainda que frio, e raciocínio, ainda que doente. Para odiar alguém gastamos energia, neurônios e tempo. Odiar nos dá fios brancos no cabelo, rugas pela face e angústia no peito. Para odiar, necessitamos do objeto do ódio, necessitamos dele nem que seja para dedicar-lhe nosso rancor, nossa ira, nossa pouca sabedoria para entendê-lo e pouco humor para aturá-lo. O ódio, se tivesse uma cor, seria vermelho, tal qual a cor do amor.
Já para sermos indiferentes a alguém, precisamos do quê? De coisa alguma. A pessoa em questão pode saltar de bung-jump, assistir aula de fraque, ganhar um Oscar ou uma prisão perpétua, estamos nem aí. Não julgamos seus atos, não observamos seus modos, não testemunhamos sua existência. Ela não nos exige olhos, boca, coração, cérebro: nosso corpo ignora sua presença, e muito menos se dá conta de sua ausência. Não temos o número do telefone das pessoas para quem não ligamos. A indiferença, se tivesse uma cor, seria cor da água, cor do ar, cor de nada.
Uma criança nunca experimentou essa sensação: ou ela é muito amada, ou criticada pelo que apronta. Uma criança está sempre em uma das pontas da gangorra, adoração ou queixas, mas nunca é ignorada. Só bem mais tarde, quando necessitar de uma atenção que não seja materna ou paterna, é que descobrirá que o amor e o ódio habitam o mesmo universo, enquanto que a indiferença é um exílio no deserto."
(Tati Bernardi)

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Pq falar da gente, ou de nossos sentimentos são tão difíceis né?
Às vezes a gente se vê tão cansada e saturada de tudo que, o que mais queremos é arrancar essa angústia do peito. Porém, n há nada melhor do que um grande escritor para falar por nós.

Enjoy it
Beeeijo



"Fico tão cansada às vezes, e digo para mim mesma que está errado, que não é assim, que não é este o tempo, que não é este o lugar, que não é esta a vida. (...)então eu não sentia nada, podia fazer as coisas mais audaciosas sem sentir nada, bastava estar atenta como estes gerânios, você acha que um gerânio sente alguma coisa? quero dizer, um gerânio está sempre tão ocupado em ser um gerânio e deve ter tanta certeza de ser um gerânio que não lhe sobra tempo para nenhuma outra dúvida..."

(Caio Fernando Abreu)



sábado, 7 de novembro de 2009

CICATRIZES

"Hoje abri meu baú de recordações... vasculhei sonhos, remexi ilusões,toquei feridas... toquei desilusões... Coisas que marcaram, músicas que ficaram, poemas de Drummond...perfumes que ainda exalam e espalham pelo ar, nos aromas de cada história vivida e de cada sensação sentida, o néctar do meu passado! E bem lá no fundo, escondido em meio às paixões esquecidas, encontrei um amor que tanto machucou, mas que o tempo cicatrizou... Num misto de saudade e tristeza, revivi os tantos momentos...de alegria e tormento... Momentos felizes, momentos de festa e euforia..mas que foram momentos roubados, pela vida negados... Um amor extirpado, dois seres divididos, cada qual em seu caminho, seguindo novos destinos, novos sonhos, novas paixões,novos desatinos, novos recomeços... Vida... sábia conselheira, experiente timoneira, nos conduziu a outras direções. Tempo... bálsamo de todas as dores,fecha todas as feridas, deixando em seu lugar apenas cicatrizes... Mas hoje, ao te encontrar neste baú de recordações, não sei se de surpresa... Pois te julgava esquecido, não sei se de emoção... que já não julgava sentir, um soluço sufocou meu peito e eu chorei... chorei...chorei... chorei . E assim, após tanta lágrima derramada, senti minha alma lavada e foi aí que descobri... Que as cicatrizes, na verdade, são apenas feridas disfarçadas......."

A DESPEDIDA DO AMOR

"Existe duas dores de amor. A primeira é quando a relação termina e a gente, seguindo amando, tem que se acostumar com a ausência do outro, com a sensação de rejeição e com a falta de perspectiva, já que ainda estamos tão envolvidos que não conseguimos ver luz no fim do túnel. A segunda dor é quando começamos a vislumbrar a luz no fim do túnel. Você deve achar que eu bebi. Se a luz está sendo vista, adeus dor, não seria assim? Mais ou menos. Há, como falei, duas dores. A mais dilacerante é a dor física da falta de beijos e abraços, a dor de virar desimportante para o ser amado. Mas quando esta dor passa, começamos um outro ritual de despedida: a dor de abandonar o amor que sentíamos. A dor de esvaziar o coração, de remover a saudade, de ficar livre, sem sentimento especial por ninguém. Dói também. Na verdade, ficamos apegados ao amor tanto quanto à pessoa que o gerou. Muitas pessoas reclamam por não conseguir se desprender de alguém. É que, sem se darem conta, não querem se desprender. Aquele amor, mesmo não retribuído, tornou-se um souvenir de uma época bonita que foi vivida, passou a ser um bem de valor inestimável, é uma sensação com a qual a gente se apega. Faz parte de nós. Queremos, logicamente, voltar a ser alegres e disponíveis, mas para isso é preciso abrir mão de algo que nos foi caro por muito tempo, que de certa maneira entranhou-se na gente e que só com muito esforço é possível alforriar. É uma dor mais amena, quase imperceptível. Talvez, por isso, costuma durar mais do que a dor-de-cotovelo propriamente dita. É uma dor que nos confunde. Parece ser aquela mesma dor primeira, mas já é outra. A pessoa que nos deixou já não nos interessa mais, mas interessa o amor que sentíamos por ela, aquele amor que nos justificava como seres humanos, que nos colocava dentro das estatísticas: eu amo, logo existo. Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo. É o arremate de uma história que terminou, externamente, sem nossa concordância, mas que precisa também sair de dentro da gente. "

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

"Eu tenho saudades de tudo que marcou a minha vida.
Quando vejo retratos, quando sinto cheiros, quando escuto uma voz, quando me lembro do passado, eu sinto saudades...
Sinto saudades de amigos que nunca mais vi, de pessoas com quem não mais falei ou cruzei... Sinto saudades da minha infância, do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro, do penúltimo e daqueles que ainda vou vir a ter, se Deus quiser...
Sinto saudades do presente, que não aproveitei de todo, lembrando do passado e apostando no futuro...
Sinto saudades do futuro que, se idealizado, provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser...
Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei, de quem disse que viria e nem apareceu; de quem apareceu correndo, sem me conhecer direito, de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer.
Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito; daqueles que não tiveram como me dizer adeus; de gente que passou na calçada contrária da minha vida e que só enxerguei de vislumbre; de coisas que eu tive e de outras que não tive, mas quis muito ter; de coisas que nem sei que existiram, mas que se soubesse, decerto gostaria de experimentar. Sinto saudades de coisas sérias, de coisas hilariantes, de casos, de experiências...
Sinto saudades do cachorrinho que eu tive um dia e que me amava fielmente, como só os cães são capazes de fazer, dos livros que li e que me fizeram viajar, dos discos que ouvi e que me fizeram sonhar, das coisas que vivi e das que deixei passar, sem curtir na totalidade.
Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que, não sei aonde, para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi...
Vejo o mundo girando e penso que poderia estar sentindo saudades em japonês, em russo, em italiano, em inglês,
Eu acredito que um simples "I miss you", ou seja lá como possamos traduzir saudade em outra língua, nunca terá a mesma força e significado da nossa palavrinha.
Talvez não exprima, corretamente, a imensa falta que sentimos de coisas ou pessoas queridas. E é por isso que eu tenho mais saudades...
Porque encontrei uma palavra para usar todas as vezes em que sinto este aperto no peito, meio nostálgico, meio gostoso, mas que funciona melhor do que um sinal vital, quando se quer falar de vida e de sentimentos.
Ela é a prova inequívoca de que somos sensíveis, de que amamos muito o que tivemos e lamentamos as coisas boas que perdemos, ao longo da nossa existência... "

" A saudade fará mais por nós dois que nosso amor e sua desajeitada e irrefletida permanência."

domingo, 18 de outubro de 2009


"Eu vejo um horizonte trêmulo Tenho os olhos úmidos"
"Eu posso estar completamente enganado Posso estar correndo pro lado errado"
Mas "A dúvida é o preço da pureza"
É inútil ter certeza
Eu vejo as placas dizendo "Não corra" "Não morra", "Não fume"
"Eu vejo as placas cortando o horizonte
Elas parecem facas de dois gumes"

Minha vida é tao confusa quanto a América Central
Por isso não me acuse de ser irracional
Escute garota, façamos um trato:
"Você desliga o telefone se eu ficar muito abstrato"
Eu posso ser um Bealte Um beatnik, ou um bitolado
Mas eu não sou ator
Eu não tô à toa do teu lado
Por isso garota façamos um pacto: "Não usar a highway pra causar impacto"

Cento e dez
Cento e vinte
Cento e sessenta
Só pra ver até quando O motor aguenta
Na boca, em vez de um beijo,
Um chiclet de menta
E a sombra de um sorriso que eu deixei
Numa das curvas da highway"

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

"Não te tocar, não pedir um abraço, não pedir ajuda, não dizer que estou ferido, que quase morri, não dizer nada, fechar os olhos, ouvir o barulho do mar, fingindo dormir, que tudo está bem, os hematomas no plexo solar, o coração rasgado, tudo bem...."


"Anyway, me dói a possibilidade de um não, me dói a possibilidade de um silêncio, me dói não saber de que forma chegar a ele, sacudi-lo, dizer 'me olha, me encara, vamos ou não vamos nessa?' Bueno, os dados estão lançados, e agora só me resta lavar as mãos sujas do sangue das canções."


"Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação"

(Caio Fernando Abreu)

quinta-feira, 1 de outubro de 2009


"Eu estava frio, não sentia coisa alguma, não tinha mais aquele horror de estar dentro da árvore nem aquele encantamento de estar fora dela."

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

SAUDADE

"Trancar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói .
Torcer o tornozelo dói.
Um tapa, um soco, um pontapé, doem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim.
Mas o que mais dói é a saudade.
Saudade de um irmão que mora longe.
Saudade de uma cachoeira da infância.
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.
Saudade do avô que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu.
Saudade de uma cidade.
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa.
Doem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o escritório e ela para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã.
Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é basicamente não saber.
Não saber mais se ela continua fungando num ambiente mais frio. Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia. Não saber se ela ainda usa camisa xadrez. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre ocupado, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet e encontrar a página do Diário Oficial, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua preferindo Malzebier, se ela continua preferindo Fanta, se ele continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados, se ela continua dançando daquele jeitinho enlouquecedor, se ele continua detestando o MC Donald's, se ela continua lhe amando.
Saudade é não saber mesmo!
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ele está com outra, e ao mesmo tempo querer. É não saber se ela está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso...
É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela.
Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer.
Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo o que você, provavelmente, está sentindo agora depois que acabou de ler..."

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

NAO QUERO SER EM SUA VIDA:

"A primeira...pois é no primeiro que se consegue verificar todos os nossos erros, vendo o quanto é preciso aprender..
A ultima, pois é quem leva a responsabilidade de realizar tudo que os outros não foram capazes, ou competentes o suficiente pra sustentar um relacionamento..
A mais importante, pois geralmente as coisas mais importantes são aquelas que menos lembramos, apenas sabemos que são importantes por alguma coisa que fizemos..
A única..pois jamais seria capaz de lhe entender, em todos os sentidos, antes que enjoasse de mim, não satisfazendo seus desejos, por não ter tempo de conhecê-los...
Em sua vida, gostaria apenas de ser aquela pessoa que não fosse muito importante, não estivesse na lista dos primeiros, nem tão pouco nas dos ultimos que não fizesse você se arrepender de não ter tido outras experiências, mesmo que me tendo como alguém especial...
......entretanto, feitos da sua opressão, e sim, uma pessoa que na sua vida entrou, fez morada, e permanece para sempre em seus pensamentos. A qual faria você sentir frio mesmo sob um calor de 40 graus..
Que a noite, quando olhar para o céu veja em cada estrela que compõe as constelações, mesmo distante, o quanto estava proximo um do outro...
Que ao ler o livro da sua vida, possa encontrar-me como autor da sua felicidade, mesmo que temporária... Aquele que com um jeito irreverente buscava arrancar de forma suave e quase despercebidamente, a sinceridade que brilhava no interior de seus olhos...
Alguém do qual jamais esquecerá, não como amiga, namorada, mas a pessoa que fez com que você por algum tempo, ou quem sabe, sempre, sentisse a verdadeira importancia de um sentimento puro..simples..sincero e profundo...
Infelizmente, acredito que não consegui atingir todos meus ideais...
No entanto, espero que você tenha esse nome em um local separado dos outros... "

"Como eu disse, as coisas nunca saem exatamente como planejamos.
A gente cresce num instante.
Um dia estamos de fraldas, no outro dia vamos embora.
Mas, as recordações da infância ficam conosco por muito tempo.
Lembro de um lugar.
De uma cidade.
De uma casa, como uma porção de casas.
De um jardim, como uma porção de outros jardins.
De uma rua, como uma porção de outras ruas.
A verdade é que depois de tanto tempo, ainda me recordo: FORAM ANOS INCRÍVEIS".


terça-feira, 8 de setembro de 2009

Você já parou pra pensar que tudo aquilo que você planejou uma vida inteira às vezes pode não acontecer? Que todos os planos que você tenha feito durante toda uma vida podem ir por água abaixo? E não porque tivesse algum motivo concreto, mas, porque simplesmente tudo tenha acabado!

Acabado de uma maneira que você mesma não saiba explicar. Quando você simplesmente começa a se dar conta... Tudo mudou! E você para e pensa: “Onde foi que tudo isso mudou? Como eu não enxerguei que as coisas possam ter tomado esse rumo? Em que momento eu deixei... esse amor fugir de mim?”.

Talvez muitas pessoas não entendam, mas, isso simplesmente aconteceu de uma forma que não teve como reverter. E foi assim que se procedeu a um dos momentos mais tristes e intensos de minha vida.

Eu acreditava ser eterno o amor e toda forma de “eu te amo” entre um homem e uma mulher. Assim, também, como todas as promessas e planejamentos que eu fazia deveriam ser.

Em meus românticos pensamentos, sempre imaginei que as pessoas tivessem apenas um amor em suas vidas e, não importasse o que acontecesse, isso jamais iria acabar.

Vai ver é por isso que as pessoas geralmente procuram alguém para se completar, para dar algum sentido em suas patéticas vidas que, não sei por que, não se bastam sozinhas.

Agora eu te pergunto: o que acontece quando você tem o que todos procuram, mas, isso não faz mais sentido para você?

(Rafaela Bucci)

quinta-feira, 3 de setembro de 2009


  1. "Nossos pais tem um certo poder sobre nós.O Poder de afetar nossos pensamentos.E emoções, do jeito que só eles conseguem.É um laço que muda com o passar do tempo,mas nunca some;Mesmo que estejam do outra lado do mundo.OU literalmente em outro Mundo.É um poder que não entendemos por completo.Mas que nos faz pensar:quando nosso hora chegar, que tipo de influencia teremos sobre nossos filhos ?"

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Ciúme não é ex.

"Sobras de minha existência pela casa, escondidas para não irritar a nova mocinha. Meu pijama sufocado num canto da gaveta para que nenhuma lembrança respire. Meus chinelos abduzidos no meio da "sapataiada", tão pequenos que quase inexistem ou poderiam passar tranqüilamente por pares de criança.
Fotos, milhares delas, guardadas sem carinho, uma preguiça triste de arrumá-las em álbuns. Estão lá, paralisadas em momentos felizes, tradutoras de uma vida que quase foi, trancadas porque o que quase foi não pode atrapalhar o que ainda pode ser.
Talvez um fio de cabelo, o último deles, esteja nesse momento sendo varrido e levado pelo vento forte e solitário que não deixa dúvidas que o inverno chegou. Inverno que era sempre comemorado porque eu sabia que ele não sentiria tanto calor para dormir e eu poderia ser abraçada de conchinha o tanto que desejasse.
Agora é outra que suspira protegida olhando o quadro do Monet e ri apaixonada de algum provável barulho que ele faça com seu nariz estranho, jurando na manhã seguinte que não ronca. Saudade não é ex, tampouco amor. Mas a vida da qual abrimos mão por um sonho (ou por um erro) é passado. E de escolhas e de perdas é feita a nossa história. Não há nada que se possa fazer a não ser carregar por um tempo um peso sufocante de impotência: eu escolhi que aquele fosse o último abraço. Agora é outra que se perde em ombros tão largos, tomara que ela não se perca tanto ao ponto de um dia não enxergar o quanto aquele abraço é o lado bom da vida.
Da vida que te desemprega mesmo depois de tantas noites em claro e de tantos beirutes indigestos. Da vida que te abre uma porta que você jura ser a certa mas quando resolve entrar descobre duas crianças brincando na sala e uma mulher esperando no quarto.
Da vida que te confunde tanto que você quer se afastar de tudo para entendê-la de fora. Da vida que te humilha tanto que você quer se ajoelhar numa igreja. Da vida que te emociona tanto que você não quer pensar. Da vida que te dá um tapa na cara pra você acordar e não tem ninguém pra cuidar do machucado e dizer que vai ficar tudo bem. Da vida que te engana.
Aquele abraço era o lado bom da vida, mas para valorizá-lo eu precisava viver. E que irônico: pra viver eu precisava perdê- lo. Se fosse uma comédia-romântica-americana, a gente se encontraria daqui a um tempo e eu diria a ele, que mesmo depois de ter conhecido homens que não gritavam quando eu acendia a luz do quarto, não faziam uso de um cigarro que me irritava profundamente e sobretudo minha rinite alérgica, não amavam os amigos acima de, não espirravam de uma maneira a deixar um fio de meleca pendurado no nariz, não usavam cueca rosa, não cantavam tão mal e tampouco cismavam de imitar o Led Zeppelin, não tinham a mania de aumentar o rádio quando eu estava falando, não tiravam sarro do bairro em que nasci, não insistiam em classificar minhas mãos e pés como seres de outro planeta, não ligavam se eu confundisse italiano com espanhol e argentino, nomes de capitais, movimentos artísticos, datas de revoluções e nomes de queijo, era ele que eu amava, era ele que eu queria.
E ele me diria que, mesmo depois de ter conhecido mulheres que conheciam a Europa e não entupiam o ralo com cabelos, mulheres que tinham nascido em bairros nobres e charmosos de São Paulo, ou melhor, do Rio de Janeiro, mulheres que arrumavam a cama e não demoravam tanto para sentir prazer, não entravam de sapato no carpete, não tinham uma blusa ridícula com uma rajada de dourado, não eram dentuças e tampouco testudas, não cantavam tão mal, não tinham medo de cachorros pequenos, não reclamavam do ar-condicionado e nem tinham medo de perder a mãe ou comer uma comida muito temperada, era eu que ele amava, era eu que ele queria.
Mas a realidade é que não gostamos desses tipos de filme fraco com final feliz, gostamos dos europeus "cult" onde na maioria das vezes as pessoas sofrem e perdem, assim como aconteceu com a gente. "

(Tati Bernardi)


domingo, 30 de agosto de 2009

"Se você pudesse voltar no tempo e mudar apenas uma coisa na sua vida, você mudaria ?
E se mudasse, será que essa mudança tornaria a sua vida melhor ?
Ou será que ela acabaria partindo o seu coração ?
Ou partindo o coração de outro ?
Será que você escolheria um caminho totalmente diferente ?
Ou você só mudaria uma única coisa ?Um único momento ?Um momento que você sempre quis ter de volta."

"Na minha memória - tão congestionada - e no meu coração - tão cheio de marcas e poços - você ocupa um dos lugares mais bonitos"



"Mas não se pode agir assim, a amiga avisou no telefone. Uma pessoa não é um doce que você enjoa, empurra o prato, não quero mais."



"Mas a verdade é que ainda não quero me prender a nada, a nenhum lugar, a ninguém"



"Acho que é isso que vocês não são capazes de compreender, que a gente, um dia, possa não querer mais do que tem."
(Caio Fernando Abreu)

"Acho que é isso que vocês não são capazes de compreender, que a gente, um dia, possa não querer mais do que tem."


"Na minha memória - tão congestionada - e no meu coração - tão cheio de marcas e poços - você ocupa um dos lugares mais bonitos"


"Mas não se pode agir assim, a amiga avisou no telefone. Uma pessoa não é um doce que você enjoa, empurra o prato, não quero mais."


"Mas a verdade é que ainda não quero me prender a nada, a nenhum lugar, a ninguém"

À espera de Leopoldo


"Foi depois do almoço das casadas que me deu a louca. Uma tava de regime porque o marido reclamou do seu peso. A outra tava de aplique porque o marido reclamou do cabelo curto surpresa. A outra, maquiada tal qual uma palhaça e usando saltos desproporcionais ao propósito da tarde, disse que seu marido pedia “esteja sempre linda, para que eu nunca enjoe”. Isso era de pronto e resumido, o disparado mais chocante. Mas nuances e pontos eram a cada minuto assustadoramente colocados. Eu jamais poderia ser uma dessas, jamais. Diferente do que é saudavelmente sugerido ou sedutoramente instigado, ao mandado de um homem ou de qualquer ser humano eu só poderia, tentar até o fim, dizer não. Nem água eu serviria. Nem o tom da voz eu baixaria. Até uma mão no braço me incomoda, caso eu não tenha, antes, encaminhado o braço até a altura da mão. De que país ou século ou sistema solar saíram aquelas mulheres? O que eu estava fazendo ali?
Foi então que entendi tudo. Como uma daquelas surpresas que faz a gente sair correndo de volta pra casa pra se encarar rindo, pelada, de frente pro espelho. Aquilo que me dizem o tempo todo, quando reclamo de meus amores que não passam de semanas e de minha solidão. Que escrevendo, fica difícil. Que sendo assim, fica difícil. Que com meu egoísmo fica quase impossível. Meu jeito crítico ou não mocinha ou não delicado ou agressivo, nunca sei. Fica difícil. E então e então e então. Pela primeira vez desde que comecei com a ideia de que talvez estivesse mesmo na hora de ter alguém dentro de casa, talvez um filho também. Pela primeira vez eu entendi, clamar das profundezas da minha alma. Um grito sufocado. A verdade enterrada. Você, minha querida, não quer. Você, fulana aí do topo de tudo o que tem aqui dentro. Escuta isso: você não quer essa vida pra você!
Não era, definitivamente, de um marido o que eu precisava. Era de Leopoldo. O garoto durango de sotaque perfeito que me teria num quarto de hotel com mantas nojentas numa cidade pequena bem longe daqui. Se isso não é ser mulher pra casar, mais um motivo para ser. Perceber isso foi entender tudo. Tão libertador quanto, depois de trinta anos sofrendo por não parecer com nada, descobrir o prazer salvador de não parecer com nada.
Amanhã, querida, quando ele for embora com seu violão e falta de jeito com mulheres de dia seguinte, não sucumba ao que dizem ser o amor e você por muitos anos acreditou. Amor não é pedir saltos, cabelos, magrezas, espaços no armário, silêncios, desejos. Amor é o que dá pra fazer da vida enquanto somos honestos com nossa vontade de ser livre. "
(Tati Bernardi)

sábado, 29 de agosto de 2009

"Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais -por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia –qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.Eu prefiro viver a ilusão do quase, quando estou "quase" certa que desistindo naquele momento vou levar comigo uma coisa bonita. Quando eu "quase" tenho certeza que insistir naquilo vai me fazer sofrer, que insistir em algo ou alguém pode não terminar da melhor maneira, que pode não ser do jeito que eu queria que fosse, eu jogo tudo pro alto, sem arrependimentos futuros! Eu prefiro viver com a incerteza de poder ter dado certo, que com a certeza de ter acabado em dor. Talvez loucura, medo, eu diria covardia, loucura quem sabe!”

(Caio Fernando Abreu)

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

" Não deixe quebrar, não deixe romper, não deixe virar grafite envelhecido e esquecido como qualquer contrato sem alma. Corra e cole os pedaços, corra e segure meus pés no chão porque eu estou quase voando, ou me faça voar novamente com você, não espere ouvir o que você não quer, não espere a vida dar merda para colocar a culpa na vida, caso tudo isso seja um trabalho inconsciente para me perder, parabéns, você está conseguindo. Mas se ainda existir dentro de você alguma esperança, eu preciso demais que você me abrace e me faça sentir aquilo novamente. Venha agora, não espere o músculo, a piada, o botão, o calo, a saudade, o arrependimento, o vazio"




"Eu achei que quando passasse o tempo, eu achei que quando eu finalmente te visse tão livre, tão forte e tão indiferente, eu achei que quando eu sentisse o fim, eu achei que passaria. Não passa nunca, mas quase passa todos os dias."



(Tati Bernardi)

terça-feira, 25 de agosto de 2009


"Eu sou sim a pessoa que some, que surta, que vai embora, que aparece do nada, que fica porque quer, que odeia a falta de oxigênio das obrigações, que encurta uma conversa besta, que estende um bom drama, que diz o que ninguém espera e salva uma noite, que estraga uma semana só pelo prazer de ser má e tirar as correntes da cobrança do meu peito. Que acha todo mundo meio feio, meio bobo, meio burro, meio perdido, meio sem alma, meio de plástico, meia bomba. E espera impaciente ser salva por uma metade meio interessante que me tire finalmente essa sensação de perna manca quando ando sozinha por aí, maldizendo a tudo e a todos. Eu só queria ser legal, ser boa, ser leve. Mas dá realmente pra ser assim?"

(Tati Bernardi)

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A Julieta era uma idiota. Porque ela se apaixona por aquele cara que ela sabe que não pode ter… Todo mundo acha isso tão romântico: Romeu e Julieta, amor verdadeiro… que triste. Se Julieta foi burra o bastante para se apaixonar pelo inimigo, beber uma garrafa de veneno e ir repousar num mausoléu, então ela teve o que merecia”


"Tem idéia do que é acordar todas as manhãs sabendo que vai falhar aos olhos da única pessoa que já amou na vida?"

domingo, 23 de agosto de 2009

ARNALDO JABOR: 'A BUNDA DURA'

"Tenho horror a mulher perfeitinha. Sabe aquele tipo que faz escova toda manhã, tá sempre na moda e é tão sorridente que parece garota-propaganda de processo de clareamento dentário? E, só pra piorarem a bunda dura? Pois então, mulheres assim são um porre. Pior: são brochantes. Sou louco? Então tá, mas posso provar a minha tese. Quer ver?

a)Escova toda manhã: A fulana acorda as seis da matina pra deixar o cabelo parecido com o da Patrícia de Sabrit. Perde momentos imprescindíveis de rolamento na cama, encoxamento do namorado, pegação... pra encaixar-se no padrão 'Alisabel', que é legal, porque todas as amigas têm o cabelo igual... Burra.

b) Na moda: Estilo pessoal pra ela, é o que aparece nos anúncios da Elle do mês. Você vê-la de shortinho, camiseta surrada e cabelo preso? JAMAIS! O que indica uma coisa: Ela não vai querer ficar desarrumada nem enquanto estiver transando.

c) Sorriso incessante: Ela mora na vila dos Smurfs? Tá fazendo treinamento pra Hebe? Sou antipático com orgulho, só sorrio para quem provoca meu sorriso. Não gostou? Problema seu. Isso se chama autenticidade, meu caro. Coisa que, pra perfeitinha, não existe. Aliás, ela nem sabe o que a palavra significa... Coitada.

d) Bunda dura: As muito gostosas são muito chatas. Pra manter aquele corpão, comem alface e tomam isotônico (isso quando não enfiam o dedo na garganta pra se livrar das 2 calorias que ingeriram), portanto não vão acompanhá-lo nos pasteizinhos nem na porção de bolinho de bacalhau do sabadão. Bebida dá barriga e ela tem H-O-R-R-O-R a qualquer carninha saindo da calça de cintura tão baixa que o cós acaba onde começa a pornografia: nada de tomar um bom vinho com você. Cerveja? Esquece!

Legal mesmo é mulher de verdade !!! E daí se ela tem celulite? O senso de humor compensa. Pode ter uns quilinhos a mais, mas é uma ótima companheira. Pode até ser meio mal-educada às vezes, mas adora sexo. Porque celulite, gordurinhas e desorganização têm solução (e, às vezes, nem chegam a ser um problema). Mas ainda não criaram um remédio pra futilidade."
(Arnaldo Jabor)


"Tenho medo de te ferir. Mas acho que precisamos 'falar seriamente'. Desculpe, mas acho que sim, sem fantasia, sem comicidade. Me pergunto sempre se você não teceu em volta de mim uma porção de coisas irreais - se você não está projetando em mim qualquer coisa como um príncipe encantado - esperando a minha volta como quem espera a salvação." (C.F.A)


"Eu queria que não fosse assim, que não tivesse sido assim. Mas não consegui evitar. A semente recusava-se a vir à tona, eu nem sempre tinha tempo ou vontade de regá-la, e não chovia mais – foi isso que aconteceu" (C.F.A)

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

“Então os meus braços não vão ser suficientes pra abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta, mas tanta coisa que eu vou ficar calado um tempo enorme só olhando você sem dizer nada só olhando e pensando meu Deus como você me dói de vez em quando.”


"As pessoas suportam tudo, as pessoas às vezes procuram exatamente o que será capaz de doer ainda mais fundo [...]"


(Caio Fernando Abreu)

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

If I Had Eyes - Jack Johnson

Se eu tivesse olhos
(Tradução da música If I had eyes - Jack Johnson)

Se eu tivesse olhos na minha nuca
Eu teria lhe dito que
Você parecia bem
Enquanto eu ia embora
E se você pudesse ter tentado confiar na mão que alimentava
Você nunca ficaria com fome
Mas você nunca ficou de fato
Um pouco mais disso, um pouco menos disso, faz alguma diferença?
Ou estamos apenas nos apegando a coisas que não possuímos mais?
Às vezes o tempo não cura
Não, nem um pouco
Apenas permanece parado
Enquanto nós nos apaixonamos ou deixamos de amar de novo
Duvido que eu vá te conquistar de volta
Quando você tem olhos assim,
Eles não vão me deixar entrar
Sempre atentos
Muitas pessoas passam o tempo apenas flutuando
Nós fomos vítimas juntos, mas solitários
Você tem olhos famintos que simplesmente não conseguem olhar à frente
Não pode dar o suficiente a eles, mas nós não podemos recomeçar
Construindo com pregos tortos,
Nós estamos caindo, mas segurando
Eu não quero mais tomar seu tempo
Tempo, tempo, tempo

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

"(...) Eu nunca vou entender porque a gente continua voltando pra casa querendo ser de alguém, ainda que a gente esteja um ao lado do outro. Eu nunca vou entender porque você é exatamente o que eu quero, eu sou exatamente o que você quer, mas as nossas exatidões não funcionam numa conta de mais(...)"


(Tati Bernardi)


Eu podia me apaixonar por vc...


"Eu podia me apaixonar por você, mas você acha minhas manias engraçadas e ri da minha cara de criança feliz diante de uma bandeja da Mc Donald's.
Eu podia me apaixonar por você, mas você tem uma família ótima, e ia fazer questão que eu fosse aos almoços de domingo e aos feriadões na casa de praia, e eu ia assistir futebol com o seu pai enquanto você dormia na rede da varanda.
Eu podia me apaixonar por você, mas você me acha bonita sem maquiagem, não se incomoda com os meus dedos tronchos nem nunca morde meu pescoço, porque sabe como eu sempre fico com aquelas manchas roxas constrangedoras.
Eu podia me apaixonar por você, mas você já assistiu todos os meus filmes preferidos, conhece as músicas que eu preciso ouvir todos os dias, sabe onde me levar pra comer minha comida preferida, sabe que eu sempre prendo o cabelo lá em cima da cabeça quando eu tô escrevendo e conhece o jeito certo de me olhar quando eu tô cantando Blood, Sweat and Tears que nem uma maluca.
Eu podia me apaixonar por você, mas você nunca ri das minhas perguntas bestas, não se importa quais bandas de rock eu não conheço e faz questão de gastar a semana inteira pensando no programa de sábado.
Eu podia me apaixonar por você, mas tudo ia ser certo demais, e eu não iria ter motivos nenhum pra apagar a luz do meu quarto, ficar ouvindo Belle and Sebastian e me sentir a menina mais triste desse mundo.
Eu podia me apaixonar por você, mas eu iria parar de ser mal-humorada, parar de escrever os meus contos de separação, parar de dizer aos amigos que eu não aguento mais ficar sozinha e passaria todo o tempo pensando em como você é melhor do que todos os meninos dos filmes que eu cresci assistindo.
Eu podia me apaixonar por você, mas a gente ia ser um daqueles casais perfeitos, que fazem inveja nos bares e cinemas, e todo mundo iria nos xingar, igual ao que eu faço quando vejo um casal assim, feito o que a gente poderia ser se eu me apaixonasse por você."