sábado, 7 de novembro de 2009

CICATRIZES

"Hoje abri meu baú de recordações... vasculhei sonhos, remexi ilusões,toquei feridas... toquei desilusões... Coisas que marcaram, músicas que ficaram, poemas de Drummond...perfumes que ainda exalam e espalham pelo ar, nos aromas de cada história vivida e de cada sensação sentida, o néctar do meu passado! E bem lá no fundo, escondido em meio às paixões esquecidas, encontrei um amor que tanto machucou, mas que o tempo cicatrizou... Num misto de saudade e tristeza, revivi os tantos momentos...de alegria e tormento... Momentos felizes, momentos de festa e euforia..mas que foram momentos roubados, pela vida negados... Um amor extirpado, dois seres divididos, cada qual em seu caminho, seguindo novos destinos, novos sonhos, novas paixões,novos desatinos, novos recomeços... Vida... sábia conselheira, experiente timoneira, nos conduziu a outras direções. Tempo... bálsamo de todas as dores,fecha todas as feridas, deixando em seu lugar apenas cicatrizes... Mas hoje, ao te encontrar neste baú de recordações, não sei se de surpresa... Pois te julgava esquecido, não sei se de emoção... que já não julgava sentir, um soluço sufocou meu peito e eu chorei... chorei...chorei... chorei . E assim, após tanta lágrima derramada, senti minha alma lavada e foi aí que descobri... Que as cicatrizes, na verdade, são apenas feridas disfarçadas......."

A DESPEDIDA DO AMOR

"Existe duas dores de amor. A primeira é quando a relação termina e a gente, seguindo amando, tem que se acostumar com a ausência do outro, com a sensação de rejeição e com a falta de perspectiva, já que ainda estamos tão envolvidos que não conseguimos ver luz no fim do túnel. A segunda dor é quando começamos a vislumbrar a luz no fim do túnel. Você deve achar que eu bebi. Se a luz está sendo vista, adeus dor, não seria assim? Mais ou menos. Há, como falei, duas dores. A mais dilacerante é a dor física da falta de beijos e abraços, a dor de virar desimportante para o ser amado. Mas quando esta dor passa, começamos um outro ritual de despedida: a dor de abandonar o amor que sentíamos. A dor de esvaziar o coração, de remover a saudade, de ficar livre, sem sentimento especial por ninguém. Dói também. Na verdade, ficamos apegados ao amor tanto quanto à pessoa que o gerou. Muitas pessoas reclamam por não conseguir se desprender de alguém. É que, sem se darem conta, não querem se desprender. Aquele amor, mesmo não retribuído, tornou-se um souvenir de uma época bonita que foi vivida, passou a ser um bem de valor inestimável, é uma sensação com a qual a gente se apega. Faz parte de nós. Queremos, logicamente, voltar a ser alegres e disponíveis, mas para isso é preciso abrir mão de algo que nos foi caro por muito tempo, que de certa maneira entranhou-se na gente e que só com muito esforço é possível alforriar. É uma dor mais amena, quase imperceptível. Talvez, por isso, costuma durar mais do que a dor-de-cotovelo propriamente dita. É uma dor que nos confunde. Parece ser aquela mesma dor primeira, mas já é outra. A pessoa que nos deixou já não nos interessa mais, mas interessa o amor que sentíamos por ela, aquele amor que nos justificava como seres humanos, que nos colocava dentro das estatísticas: eu amo, logo existo. Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo. É o arremate de uma história que terminou, externamente, sem nossa concordância, mas que precisa também sair de dentro da gente. "