segunda-feira, 12 de abril de 2010


“Salva pelo gongo” pensei. Mas sentia ele ainda me olhando pelo canto dos olhos. Uma mistura de frustração, curiosidade e desespero.

Com uma rapidez antes não notada, o elevador desceu e a mulher saiu assim que chegou ao térreo. Supostamente era para ele descer também, mas, não sei por que ele resolveu ficar. A porta fechou e enquanto o elevador descia dois andares abaixo, rumo ao estacionamento onde minhas amigas estavam ele pegou na minha mão e disse:

-Você precisa mesmo ir?

Por que ele insistia em me olhar daquela maneira? Agora o meu rosto deve ter passado do vermelho para o roxo, porque sentia a pulsação dentro das minhas veias.

-Ahn? Que pergunta é essa Beto? Tá maluco? – Uma fagulha de raio entrou pelo meu peito, passou pelo estômago e deixou meu corpo todo eufórico. Isso foi o máximo que conseguir dizer, tirando rapidamente minha mão da sua. O elevador parou.

Estava já saindo, às pressas, quando ele me chamou.

-Cecy! – e pelo apelido!

Eu olhei para trás, tentando buscar ar agora que estava “livre”.

-Volta logo! E, por favor, tenha juízo. – ele disse meio melancólico, meio pedindo algo?

Eu apenas abri a boca assustada e não consegui me despedir ou dizer alguma coisa que fosse. Antes disso a porta se fechou e o elevador subiu.

(Rafaela Bucci)

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